Como evitar que a sua viagem para a Europa vire uma maratona insana de museus

Se você é do tipo de viajante que curte se envolver com a cultura das cidades por onde passa, é certo que fazer algumas incursões artísticas sempre está no seu roteiro.

E apesar de não concordar 100% com esse título, não é também 100% à toa que a Europa é chamada de berço da civilização ocidental. Há muita história e cultura para ser desbravada e, principalmente, entendida por lá.

A vontade de ver tudo, de entrar e ficar horas em cada museu, centro cultural, é a grande tentação. Mas veja se a cena não soa familiar: depois de um dia inteiro passeando, você compra o ingresso depois de vencer uma fila nada pequena, finalmente entra naquele museu lindão, dá meia dúzia de passos e o cansaço que você conseguiu ignorar o dia inteiro resolve se materializar de uma só vez.

Museu D’Orsay, Paris – Foto: Arquivo Pessoal.

Pés doendo, coluna em frangalhos, sensação de que só tá batendo ponto lá, e a paciência começa a enviar sinais de que acabou (à esta altura, qualquer quadro ou escultura parece igual e massante…já deu!).

Todos concordamos que é frustrante. Ainda mais depois de meses de planejamento, imaginando como seria andar pelos corredores do Louvre, do Museo del Prado, presenciar as exposições na Fundació Miró e as viver experiências marcantes na Galleria Borguese, etc.

Érico Veríssimo, já havia diagnosticado essa situação como “Canseira de Museu“, também entendido por ele como “Canseira de viajante“: muitos lugares e muita informação para percorrer e assimilar em pouco tempo. Chega uma hora que corpo e mente “pedem pra sair”.

Museu do Louvre, Paris – Foto: Arquivo Pessoal.

“Menos é mais” ainda é uma das melhores dicas para colocar em prática e assim extrair o melhor das nossas viagens. Aprendizado obtido da forma mais inesquecível (provável que não a mais adequada): na marra e na prática.

Dessa experiência nasceu esse guia com 8 atitudes (a última virou a minha dica de ouro) que eu considerei essenciais para reorganizar o meu roteiro (em campo) e não detonar a minha viagem.

Primeiro, o indispensável

Pra mim, é inimaginável uma primeira viagem à Paris sem ir ao Louvre e ao D’Orsay. Assim como pisar em Amsterdã sem ir ao Rijksmuseum e ao Museu Van Gogh. Madri sem o trio Prado, Thysen-Bornemisza e Reina Sofia é quase como não ter ido à Madri. Que fique bem claro: (1) Pra mim e (2) bem mais nos casos de quem está visitando a cidade “X” pela primeira vez.

Rijksmuseum, Amsterdam – Foto: Erich2448 (Flickr/ Creative Commons)

Pra mim (de novo: pra mim), a história desses museus e dos equivalentes em outras cidades se confunde com a história das próprias cidades, o valor deles é inestimável, e isso faz com que a visita seja essencial para compreender bem as origens do chão aonde eu estou pisando.

Investir em visitas aos medalhões questão de conexão com a cidade pra mim, mas como isso é algo bem pessoal (afinal, ninguém é obrigado a entrar no Louvre), defina quais museus são indispensáveis ao seu roteiro e priorize segundo os seus, e somente seus, critérios.

Curiosidade é fundamental

Sobrou tempo no seu planejamento? Aí sim pode ser uma boa aproveitar para encaixar algum museu/ centro cultural que esteja fora de roteiros comuns, mas que trate de algum assunto que seja do seu interesse, que tenha mais algumas obras perdidas de Monet, Picasso, ou qualquer outro artista que você tenha apreciado mais caminhando pelos museus por onde já passou (vale até escolher algo lá, na hora, se sobrar tempo em algum dia da sua viagem).

Centre Pompidou, Paris – Foto: Arquivo Pessoal.

Você já vai com o olhar mais direcionado e não se cansa tanto ao apreciar as obras de forma menos aleatória. E são esses detalhes que farão com que a sua viagem seja um tanto mais fora da caixa, evitando os clichês. É o que torna a viagem sua, pra ser mais direto.

Pacifique a sua mente e otimize as visitas

Uma das melhores dicas que me deram foi que nem tudo que está exposto em um museu é realmente importante. Na verdade, uma parcela bem menor que a metade das coleções dos museus é composta de obras primas. Como assim “nem tudo é obra prima”?

Eu gosto de pensar em um álbum de figurinhas da copa do mundo para explicar o assunto. Ninguém completa a coleção de figurinhas da Copa do Mundo colando apenas as fotos dos craques no álbum. Os maiores exemplos de pernas de pau marcam presença lá de quatro em quatro anos.

Da mesma forma, as famílias reais e aristocratas, que eram e são até hoje grandes doadores de obras de arte para os museus europeus, juntavam tanto as obras primas quanto as de menor expressão de determinado artista, compondo assim uma coleção.

Museu do Louvre, Paris – Foto: Arquivo Pessoal.

Toda essa explicação pra te dizer: foque nas obras primas. Muitos museus tem um mapa de obras primas, e também alguns roteiros mais específicos (o Van Gogh Museum tem uma rota especial elaborada pelo DJ Armin Van Buuren, que é sensacional!), seja em papel ou embutido no audioguia que te permitem conhecer o essencial de cada coleção.

Outra dica importantíssima é: Esteja em paz quanto a não conseguir ver tudo em alguns casos. E isso é especialmente útil em museus como o Louvre: 9 coleções, e cada uma delas valendo pelo tamanho de muito museu por aí: até com roteiro de obras primas é complicado.

A consequência disso é que vai difícil apreciar tudo isso com calma em uma única viagem (A menos, é claro, que você vá só pelo Louvre). Escolha dois ou três assuntos/épocas/coleções, conviva bem com isso e assuma que um dia você voltará lá e verá outras obras.

Pra não engessar demais o seu passeio, experimente a minha estratégia pessoal de visita à museus Tabajara: siga os roteiros de obras-primas e vá se deixando impressionar por aquelas que puxem a sua atenção entre uma grande obra e outra.

Museu do Louvre, Paris – Foto: Arquivo Pessoal.

Pague pelo audioguia

Não sou nenhum especialista em arte. Na verdade, não sou o tipo de pessoa que vai parar em frente à um quadro ou uma escultura (já que o conceito de arte é muito mais amplo que duas ou três modalidades) e te explicar cada detalhe da obra, o processo criativo, entre outras coisas.

Mas gosto de ir ao museu da mesma forma que vou ao cinema, como quem não toca nem pandeiro, mas vai ao Rock in Rio. Ou seja, como admirador/ expectador. E se você também não curte esse som pintando na sua mente toda vez que para em frente à um quadro…

…a solução mais eficaz e barata é pagar pelo audioguia. Muitos museus na Europa possuem audioguias em português e cobram algo entre 2 e 3 euros pelo aluguel. Alguns até disponibilizam para download antecipado, seja gratuito ou por um preço menor.

Esta dica é preciosa por um único motivo: você ganha tempo com o audioguia. A obra é explicada tão logo você para em frente ao quadro e dá o play na faixa correspondente. É investimento na sua experiência e não um mero gasto.

+ Pare de falar que não entende nada de arte

Evite filas à todo custo (especialmente no verão europeu)

Pense bem comigo: se andar pelas dezenas de corredores das galerias dos museus já é extremamente cansativo, imagina já entrar no museu cansado e sem ter visto nada ainda. E é isso que as filas farão com você: roubar uma boa parte da sua energia, da sua paciência e comer tempo da sua viagem que poderia ser aproveitado curtindo as atrações da cidade onde você está.

Como evitar isso? Muito simples: compre os seus passes turísticos e ingressos antecipadamente. Os passes são cartões que permitem a entrada em vários museus e atrações turísticas, e salvo raras exceções, sem filas. O site Ticketbar te ajuda a cumprir essa etapa do planejamento sem dificuldades.

Museo del Prado – Madrid (Foto: Emilio – Flickr/ Creative Commons)

Conforto é essencial

Parece bobeira lembrar, mas usar um calçado confortável é primordial. Bem como deixar qualquer peso adicional no guarda-volumes dos museus, mesmo que não seja obrigado.

Vai por mim: qualquer par de horas em pé, com uma mochila nas costas transformarão um simples livro em um tijolo dentro da sua mochila. Aquele sapato lindão, mas nada perfeito para caminhadas fará você sentir que seus pés estão cobertos de concreto ao invés de couro.

Palácio de Versailles, Paris – Foto: Arquivo Pessoal.

A parada para o café: sempre uma decisão estratégica

Não sei o que tem no ar dos museus que faz com que o ambiente interno das galerias seja tão desidratante. Some isso ao fato de que andar cansa e dá fome. Sendo assim, planejar um descanso rápido a cada 30-40 minutos faz muito bem.

A maioria dos museus possui uma área com cafeterias e lanchonetes, com cadeiras e bancos e que são uma ótima pedida para tomar uma garrafa de água e comer alguma coisa enquanto descansa os pés e as costas durante um tempo (eu recomendo a cafeteria do Museo del Prado até pra quem não tá cansado  ).

A minha dica de ouro

Aquela hora que você tem que acreditar em mim…

Palácio de Versailles, Paris – Foto: Arquivo Pessoal.

A dica de ouro é bem simples: coloque as visitas aos museus em primeiro lugar no roteiro de cada dia, e chegue logo cedo de preferência.

Com a disposição da manhã, você prestará mais atenção nas obras e ainda estará longe da exaustão. Se fizer o contrário, já chegando cansado, há chances de que você não consiga aproveitar bem a visita, e como eu disse anteriormente, vai apenas “bater o cartão” nos museus.

chegando logo nas primeiras horas de abertura, a concorrência pelo espaço nos corredores é bem menor. Você evita as multidões e tem para si um ambiente muito mais tranquilo e silencioso para percorrer. Aumenta bastante a qualidade da sua experiência durante a visita.