Se você não é o Dennis Rodman, provavelmente o nome “Coréia do Norte” representa um grande mistério pra você, ou algo no mínimo difícil de opinar, se o assunto não for ligado à política louca e desumana dos Kim.
Mas, a partir da colaboração entre J.T. Singh, um especialista de branding com foco em cidades, o cineasta Rob Whitworth e a Koreo Tours, uma agência de turismo especializada em pacotes para a Coréia do Norte, foi criado o filme “Enter Pyongyang” (Explore Pyongyang, em português), que mostra a herméticamente fechada capital Pyongyang sob uma perspectiva rara: gente normal, fazendo coisa de gente normal.
Ou seja, uma tentativa – super bem sucedida – de ir além dos clichês, de mostrar o lado humano do dia a dia local.
Mas óbvio, o vídeo é um mero recorte da realidade e o buraco ainda é, e pelo visto continuará sendo bem mais embaixo na Coréia do Norte durante um bom tempo.
Assim como qualquer pessoa que visita a Coréia do Norte, a própria equipe que produziu “Enter Pyongyang”, não pode dar um passo no país sem o acompanhamento de dois guias oficiais do governo. Desde a sua interação com cidadãos locais até fotos – que não podem mostrar locais em construção, cenas de pobreza ou locais militares – tudo é vigiado e controlado pelos guias.
Existe também um total controle sobre os roteiros turísticos disponíveis (não, você não pode simplesmente decidir mochilar livre por lá). Afinal, nada que sirva como “demonstração de fragilidade” do governo local pode ser mostrado e muito menos registrado. Só fotos de locais que passem a idéia de prosperidade são permitidas na Kimlândia.
Na descrição do vídeo, J.T. Singh chega a citar que: “Em nenhum momento a Koryo Tours ou nós tivemos que fingir ser partidários do governo Norte Coreano ou sua filosofia, a fim de ser concedida a permissão para produzir este filme. Surpreendentemente, foi concedido o controle editorial completo na produção do vídeo“.
Sendo verdade ou não, é o tipo de comentário que por si só se encarrega de destacar a ausência de liberdade individual quotidiana que impera no país.
Fato é que a aparente imunidade à mudança, como define o produtor, e o fechamento da Coréia do Norte pro mundo ocidental começam a dar sinais de que talvez seja possível alcançar algum nível de flexibilização no futuro. A própria abertura e também o incentivo ao turismo podem ser vistos dessa forma.
Não são divulgados dados oficiais, mas estima-se que o país seja visitado anualmente por algo entre 4000 a 6000 visitantes ocidentais e 10000 vindos do oriente.
O vídeo, assim como tudo que já li sobre a Coréia do Norte, desperta sim um certo nível de curiosidade de conhecer o país. Além do local em si me parecer interessante e de certo ponto bonito, seria a “oportunidade” (se assim posso chamar) de observar de dentro (ainda que com todas as restrições possíveis e impossíveis) como é que funcionam as coisas sob um panorama político totalmente diferente daquele sob qual eu vivo.
Mas aí é que vem a seguinte questão: vale a pena visitar um país que, não bastasse todas as restrições que impõe à quem vem de fora, ainda é reconhecidamente o maior violador de direitos humanos dos últimos tempos?
Mesmo sabendo que cada centavo que você gasta num país estrangeiro se converte em impostos, que por sua vez irão colaborar com o fortalecimento do governo local, e que cada foto que você tira e compartilha é também uma forma indireta de divulgação, ainda assim dá pra ignorar essas e outras questões em relação à locais dominados por governos sanguinários?
E sob um ponto de vista mais otimista, pode haver algo de positivo nesse tipo de turismo?
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Pra fortalecer a discussão, é legal ler a experiência que a Juliana Cunha postou no blog dela (clique aqui) e o relato do repórter Richard Amante para a revista GQ (clique aqui).
Duas experiências muito polarizadas: A Juliana teve a estadia dela na Coréia bem mais tranquila, por ter contatos com um amigo diplomata, que a ajudou a passar o tempo por lá com um pouco mais de liberdade, sem os guias do governo. As fotos dela em Pyongyang na época da neve são sensacionais! Já o Richard descreveu com riqueza de detalhes como é estar lá como um turista comum e as devidas implicações.
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